quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Estuda, tchê: Revolução de 1930

A sociedade brasileira mudava rapidamente com a urbanização, com a ampliação dos setores secundários e terciários, com as redes de estações radiofônicas unindo os brasileiros, com as ideias de outras sociedades trazidas pelo cinema estrangeiro, com os movimentos operários promovidos pelos anarquistas e com a incorporação dos imigrantes na economia nacional. Apenas o governo federal continuava o mesmo, sem acompanhar ou dar soluções às crises sociais, políticas e econômicas.

O presidente de Minas Gerais Antônio Carlos de Andrada pretendia candidatar-se à presidência da República. Seu estado possuía maior número de eleitores, portanto tinha a maior bancada na Câmara dos deputados. O segundo estado em força política era São Paulo, que, junto com a bancada mineira, formava a “dupla café com leite”. Ao organizarem as comissões da Câmara, davam sempre a presidência a Minas Gerais, carreando recursos para os mineiros e mantendo uma política econômica favorável aos cafeicultores. A dupla, com mais alguns estados do nordeste, formavam a maioria na Câmara.

A sucessão presidencial de 1929 rachou o Partido Republicano mineiro, pois 16 deputados não concordaram com o candidato do partido, o qual terminou sendo eleito. Washington Luís indicou para sua sucessão Júlio Prestes, presidente de São Paulo, que possuía a segunda força eleitoral, a maior força econômica e a Força Pública bem armada e treinada. Restava a Antônio Carlos buscar apoio do Rio Grande do Sul, que era a terceira bancada na Câmara, com o Partido Republicano monolítico e agora contando com a participação da oposição, auto-suficiente na economia além de ter a fiel Brigada Militar melhor armada do que o Exército. Teoricamente Minas e o Rio Grande do Sul com alguns estados do nordeste venceriam as eleições, mas o candidato oficial ganhava sempre, graças às fraudes eleitorais.

A aliança Liberal lançou as candidaturas de Getúlio Vargas à presidência e de João Pessoa, à vice-presidência. Era costume de o candidato iniciar sua campanha com um banquete e discursos num clube ou num cinema. A polícia do Rio de Janeiro não permitiu que a Aliança Liberal alugasse um cinema, então Getúlio lançou sua candidatura num comício em praça pública, apresentando, coisa inédita, um programa de governo. A Aliança organizou caravanas pelo interior do país, em busca de votos. Seus candidatos, sabendo das trapaças eleitorais, discursavam ameaçando com a revolução.

Júlio Prestes ganhou e Washington Luís passou a hostilizar os presidentes de estados que apoiaram Getúlio Vargas, começou a chamada “degola”, punições e demissões de funcionários federais. As hostilidades na Paraíba provocaram a morte de João Pessoa e deputados mineiros aliancistas não tomaram posse na Câmara, sob alegação de fraude. Estava chegando a hora e a vez do Rio Grande do Sul.

Com a crise do café, provocada pela quebra da bolsa de Nova Iorque, os cafeicultores pediram indenização ao candidato eleito. Júlio Prestes se negou, mas Getúlio Vargas, o derrotado, comprometeu-se em comprar o produto estocado, desde que fosse apoiado. A revolução tão esperada aconteceu.

Na manhã de 03.10.1930 os telefones começaram a tocar e uma voz dizia: “Clichê de Iolanda Pereira está pronto” ou então “O velho está doente e será operado hoje”. Os rádios dos quartéis repetiam: “O quê que há. Osvaldo Aranha”. Eram as senhas para o início da revolta.

Guardas Civis armados e com embornal de munições ocupavam as escadarias da igreja de Nossa Senhora das Dores, ao lado do Quartel General do Exército, para tirarem uma fotografia. Na Rua Riachuelo, atrás do quartel da Polícia Civil e Brigada Militar, em diagonal com o quartel general, estava repleto de populares e militares. Às 17h30min uma patrulha saiu pelo portão lateral do quartel da Polícia Civil e tomou de assalto o Quartel General, o Arsenal, o Quartel da Praça do Portão e a guarnição do Morro do Menino Deus. De madrugada, a capital estava em mãos dos revolucionários.

Os rebeldes seguiram de trem até a fronteira de São Paulo, em Itararé, onde estavam entrincheiradas tropas paulistas. Houve choques entre patrulhas, mas quando se preparavam para o combate final, chegou a notícia que Washington Luís fora deposto por uma junta militar. Os chefes revolucionários Pedro de Góes Monteiro, Miguel Costa, Flores da Cunha, João Alberto e Batista Luzardo resolveram marchar contra o Rio de Janeiro, sem que a Junta tivesse tempo de mobilizar forças para detê-los, só restando entregar o governo a Getúlio Dorneles Vargas, com poderes discricionários.

Assumindo o governo provisório, Vargas dissolveu o Senado, a Câmara de Deputados, as Assembleias estaduais e as Câmaras municipais, demitiu funcionários públicos e nomeou interventores para os estados.

Fonte: 
Livro História do Rio Grande do Sul
Moacyr Flores

Nenhum comentário:

Postar um comentário