sexta-feira, 15 de junho de 2012

Estuda, tchê: Gerações Coreográficas e História das Danças

GERAÇÕES COREOGRÁFICAS

Primeira geração coreográfica: Ciclo dos Fandangos 
 A mais típica representação tradicional do Rio Grande do Sul, no campo das danças, é o velho "fandango". Chamou-se "fandango', no antigo Rio Grande, a uma série de cantigas entremeiadas de sapateado. Estas canções, bem como o ritmo - a música, enfim eram essencialmente mestiças do Brasil; já o sapateado - amoldado ao ritmo regional - se originara das antigas danças de par solto, características da romântica Espanha. Vigorou em 1800 à 1880, e eram acompanhadas pela viola e rebeca. Estes bailados espanhóis constituíram o primeiro "ciclo" ou "geração" coreográfica que interessa ao estudo da formação das danças populares brasileiras.

 Segunda geração coreográfica: Ciclo do Minueto 
 Lançado da Côrte de Luiz XIV na França veio o Minueto, mais tarde, dar origem a nova geração coreográfica: as danças graves, de pares ainda independentes uns dos outros. Os pares tomam-se da mão e executam lentos giros fazendo reverência. Notam-se essas características no Caranguejo e no passeio do Anú.

Terceira geração coreográfica: Ciclo da Contradança 
 Da Inglaterra surgiu a "country dance" - e esta gerou o ciclo das contradanças e quadrilhas, bailados de conjunto, sob comando, de pares absolutamente dependentes uns dos outros. Características do Rilo, e Quadrilhas.

Quarta geração coreográfica: Ciclo dos Pares Enlaçados 
 Finalmente, a valsa vienense veio abrir caminho para uma última geração coreográfica, que chegou até nossos dias: as danças de pares enlaçados. Os pares dançam enlaçados, recatadamente independentes, sem comando. Surge a “Shottish”, que era uma mescla de valsa com passos de polca. Só mais tarde, com o aparecimento do tango começou a ser permitido, nos salões, o abraço entre homem e mulher.

HISTÓRIA DAS DANÇAS TRADICIONAIS

Anú
Dança típica do fandango gaúcho, é o nome de um pássaro negro, que habita os campos do RS. Divide-se em duas partes: uma cantada, bem européia quase um minueto, e outra sapateado bem gauchesca. É grave e viva ao mesmo tempo, na parte cantada é cerimoniosa e na sapateada realiza evoluções bastante marcantes. Na preferência dos sul rio-grandense, vem em segundo lugar, depois da Tirana do lenço. 

Balaio
Dança brasileira, procedente do Nordeste. O nome tem origem no aspecto do cesto que as moças dão às suas saias quando giram rapidamente sobre os calcanhares e se abaixam, fazendo com que o vento embolse nas saias. Trata-se de dança sapateada e, ao mesmo tempo, de conjunto. Além do sapateio destaca-se a formação de rodas que giram. 

Cana-Verde
Originária de Portugal, se tornou popular em vários estados brasileiros e adquiriu formas locais em cada região, produzindo variantes da dança origem. Os pares postam-se frente a frente, executam uma marcação de passos para os lados e após, tomados pelo braço, giram em torno de si mesmos. Num segundo momento fazem o mesmo com os demais dançarinos trocando de pares em evoluções através do círculo formado pelos pares. No RS era dança do Centro e do Norte do estado. Ao que consta, é dançada até hoje em Portugal.

Caranguejo
Dança de origem brasileira, cujo nome foi tirado de crustáceos de nossas águas. Aparece, ás vezes, como brinquedo de criança, até o começo deste século foi muito dançado na região da fronteira. Há referências sobre esta dança em todo o Brasil desde o século XIX. É uma dança grave, de pares dependentes, lembrando bastante o minueto.

Chimarrita
Trazida pelos açores, com o nome de "Chamarrita", passou da coreografia de pares enlaçados (dançava-se uma mistura de chote e valsa) a atual coreografia, caracterizada por fileiras opostas de peões e prendas que encontram-se e desencontram-se num ritual de namoro, passando a chamar-se de "Chimarrita". Dançada também em Santa Catarina, Paraná e São Paulo, como também na Argentina e Uruguai. 

Chimarrita Balão
Pode ser uma variação do "balão" dançado em Portugal ou do "balão faceiro", dançado no Brasil, porém muito diferente da Chimarrita. É conhecida apenas no Litoral e no Planalto Norte do Rio Grande do Sul. Não encontramos nenhuma semelhança entra a chimarrita balão e a tradicional chimarrita. É dança de pares enlaçados e ao mesmo tempo sapateada. Nela os pares colocam-se em círculo, peão e prenda se tomam por ambos os braços de modo que a mão de apoio ao cotovelo do par, saindo ao trotezito.

Chotes Carreirinho
Dança folclórica gaúcha, originária do francês schottinh trazido pelos imigrantes alemães. Na primeira parte da dança, os pares desenvolvem uma pequena corrida compassada, o que deu razão ao nome da dança: carreirinho. O carreirinho foi muito dançado aqui no Sul, é uma das mais simples coreografias dos chotes.

Chote das Sete Voltas
A peculiaridade dessa dança, o próprio nome já diz, as sete voltas que o par deve realizar na valseadinha da dança, girando num sentido, e de imediato, em sentido contrário.

Chote Inglês
Dança de salão difundida nas cidades brasileiras no final do século XIX, por influência da cultura inglesa. Começou pelos centros urbanos, executado ao piano e ganhou o interior já executado na gaita. Suas características dão a impressão de ser tema do ciclo dos Palácios Europeus. Como o Anu e a Quero-mana, dividi-se em duas partes, a primeira, cerimoniosa, a segunda, um chote bem descontraído.

Chote de Quatro Passi
Também conhecida como “Chote A La Italiana”. É dança vigente na região colonial italiana. Foi a primeira dança colonial italiana. Os informantes, todos professores rurais, procediam das mais variadas regiões da colônia italiana do Estado. Tem versos em italiano, mas o comum, não o dialetal.

Maçanico
É dança gaúcha, mas sofre influência dos motivos coreográficos portugueses. Foi recolhida em Lagoa Vermelha e Vacaria. O nome é uma corruptela de Maçarico, ave doa banhados e sua corridinha imita o alçar do vôo do pássaro. Uma das danças mais alegres do Rio Grande do Sul.

Meia Canha
Dança de provável origem espanhola, “Media-Canã”. Foi conhecida como polca de dizer versos. Dança em que se postam, homens e mulheres em círculo a rodar. Sua principal característica são as trocas de versos.

Pau de Fitas
É tida como dança universal, pois não se consegue encontrar o ponto geográfico de origem. Ela surge de todos os lados e em todos os povos. Provavelmente venha da dança das fitas evidenciando as solenidades de culto às árvores entre os povos primitivos. No Rio Grande do Sul é dançada, embora com raridade, como parte integrante das festas de reis, em 6 de janeiro. Hoje dança-se em torno de um mastro formando figuras com as fitas de acordo com as evoluções dos dançarinos que levam as fitas, em duas cores, uma para os homens e outra para as mulheres, nas mãos fazendo os entrelaçamentos. É uma dança que se cultua as árvores, símbolo da fertilidade. Era hábito enfeitar as árvores e dançar em volta delas, surgiram então, as fitas coloridas e por fim as árvores foram substituídas por um mastro. No RS, dança-se atualmente três figuras: a trama, a trança e a rede de pescador.

Pezinho
Originária de Portugal e Açores é vivaz e alegre, com características de sã ingenuidade. É a mais conhecida dança do folclore gaúcho, onde os dançarinos apresentam duas partes: na primeira há uma marcação dos pés e na segunda os pares giram em torno de si próprios, tomados pelo braço. Chegou ao Brasil como brincadeira de criança. É a única dança popular rio-grandense em que todos os dançarinos obrigatoriamente cantam.

Quero-Mana
Dança dos antigos fandangos, popular também em Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Para os gaúchos de hoje, Quero-Mana quer dizer canto de amor. Assemelha-se com o Anu, a primeira parte, um minueto e a segunda, um bate-pé executado por peões e prendas.

Rancheira de Carreirinha
A rancheira foi muito popular no Uruguai e Argentina. Caracteriza-se pela "carreirinha" que são passos de juntar, nessa, a letra da música, é um convite a bailar a rancheira. É uma versão pampeana da “Mazzurca”.

Rilo
Vinda da Escócia, tornou-se popular no RS em meados do séc. XIX, dançada em roda, é uma coreografia de três figuras básicas, onde há troca de pares constante. Caracteriza-se pelos dançarinos formarem um oito (8). 

Roseira
Uma das danças regionais sul-riograndense onde se percebe maior parentesco com danças regionais de Portugal. Coreografia muito rica onde os pares dançam soltos, outras de mãos dadas em ritmo rápido, outras há a execução de um namoro com gestos lentos e delicados e uma última onde, através de evoluções os homens e mulheres trocam com todos os outros pares da roda até reencontrar seu par original. Dançada em roda, com pares dependentes, assemelha-se com a "Chimarrita-balão", dançada num ritmo mais lento, compreende duas figuras básicas: a roseira e o chote. A coreografia lembra uma rosa que se abre e fecha, daí talvez o nome. Foi recolhida na Região de Taquara pelo 35 CTG, provavelmente só foi dançada nesta região. 

Sarrabalho
Tem origem na Ibéria. Trata-se de um sapateado, em que os dançarinos vão castanholando com os dedos, em pares soltos, com o homem parecendo perseguir a mulher. Certos bailes em Portugal na fala do povo, são chamados de balho. Daí para a deturpação de Cerra baile para Sarrabalho. É apenas uma parte do Sarrabalho antigo, que teria sido recolhido incompleto.

Tatu com volta no meio
Originalmente, o Tatu não tinha a "volta no meio". Consistia num sapateado de pares soltos sem maiores características. A volta no meio foi introduzida na metade do século XIX. O tatu caracteriza-se pôr ser uma história contada em versos. É dançada por pares independentes, chama-se "com volta no meio", pelos giros que a prenda faz durante a voltinha no meio. Dança mais popular do glorioso Decênio Farroupilha, sendo que chegou uma época em que o sapateio passou a ser executado simultaneamente com a execução do canto, numa exceção à regra que o canto interrompe a dança no fandango.

Tatu de castanholas
É uma dança rio-grandense, criada em 1954, para homenagear a Sociedad la Criolla, que visitava Porto Alegre. É um sapateado com a formação de círculos. Diferencia-se do outro tatu por ser uma dança de pares soltos e independentes. Originou-se no 35 CTG, sua principal características é o sapateio executado pelos peões, um sapateio fixo e dinâmico.

Tirana do lenço
Dança espanhola muito difundida na América Latina, na qual os dançarinos são pares soltos que entre passeios e sapateios dos homens e sarandeios das mulheres, agitam pequenos lenços na indicação de uma conquista entre o homem e a mulher. Foi uma das danças espanholas mais difundidas na América Latina. As tiranas foram lançadas em Madri em 1773, pela cantora Maria Rosária Fernandes, esposa de um ator conhecido por “El Tirano”, donde lhes veio os nomes. Por ser uma das danças prediletas do gaúcho, desdobrou-se em várias variantes. É dançada ora com pares soltos ora com pares ligados pelo lenço. Existem vários tipos de tirana. As mais conhecidas são a "Tirana do Ombro" (peões e prendas tocam-se nos ombros) e a "Tirana do Lenço"(peões e prendas acenam lenços em gestos amorosos), hoje a atual tira na dançada no Estado.

Chote de Duas Damas
É uma bonita variante do chote, em que um peão dança com duas prendas, possivelmente reproduzindo o que acontecia na Alemanha. Na Argentina se dança o palito do mesmo modo. Em São Paulo, na década de 1920, dançou-se um chote militar com duas damas. Diz-se que teve origem num momento em que por causa das guerras haviam poucos rapazes nos bailes.

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