terça-feira, 30 de agosto de 2016

Cantinho Gaúcho entrevista: Rogério Bastos

Hoje trago aqui pro Cantinho Gaúcho mais uma entrevista super especial!

Vamos conhecer um pouco sobre a história tradicionalista de um dos ícones do nosso Movimento nos dias atuais, ele que é o autor do livro "MTG - 50 anos de preservação e valorização da Cultura Gaúcha": Rogério Bastos!

Rogério Bastos na Colonia do Santíssimo Sacramento no Uruguai

1. Olá Rogério. Fico muito feliz em contar com a tua participação aqui no blog. Nos conte um pouco sobre você, e como se deu o início da tua trajetória no Movimento.
Buenas amigos.... Carol.... Eu venho de uma família de Carreteiro, meu avô Florimundo Joaquim Bastos cortou o chão do Rio Grande com suas carretas, comercializando por este Estado. Meu pai, um grande laçador, homem campeiro, nos ensinou desde cedo os valores do povo gaúcho. Mas foi quando meu irmão, que é deficiente auditivo, dançava nas domingueiras, e eu não, que me dei conta que precisava aprender e, um dia ensinar. Ele dançou mais de quinze anos no CTG Querência da Escola Concórdia, e fazíamos parte do CTG Valentes da Tradição. Em Bagé eu já participava do Sentinela da Fronteira, Prenda Minha e 93. Mas foi aqui na capital que aprendi para poder ensinar.
Com meu pai e minha família, juntos, fizemos muitas cavalgadas. Ajudei a criar a Fundação Cavaleiros do Mar. Fui instrutor de danças tradicionais, de salão, declamei em rodeios, cantei, concorri a peão dezenas de vezes, fui conselheiro do MTG, secretário geral, diretor de comunicação da federação, autor de tema dos festejos farroupilhas do RS, autor de capítulos de livros dos festejos, organizei o livro de 2013, fui autor do livro dos 50 anos. Refiz, com autorização do Salvador Lamberty o ABC do Tradicionalismo. Reeditamos e atualizamos com autorização de Nilza Lessa, o livro A Historia do Chimarrão, de Barbosa Lessa.
Mas minha maior obra, sem dúvida nenhuma, é meu filho, Jean Carlo, que me acompanha desde os primeiros passos. Participa de tudo, um peão completo! Campeira, artística e cultural. Mas que deixo que siga por conta seu caminho.
Porém, sei que filho de tigre, sai pintado.

Florimundo Joaquim Bastos, Carreteiro, em 1938 nas Palmas, distrito de Bagé

Avó, o filho e o neto recebendo o titulo de Cavaleiro da Ordem
dos Cavaleiros do Rio Grande do Sul

Saí de Porto Alegre solito, cavalgando e pensando na vida, em Águas Claras meu pai 
seus amigos me encontraram e seguimos o trajeto até Magistério

2. Eu, assim como muitos tradicionalistas, sei que tu tens mil e uma utilidades no meio tradicionalista. Nos fale um pouco sobre as multifunções que hoje tu exerces.Muita gente pelo Estado passou a me conhecer quando fui Peão Regional em 1995 ao lado do Lairton, que mais tarde tornou-se Peão Estadual. Mas fiz parte de patronagem do Valentes, subcoordenadorias, coordenadoria regional... Até que em 2001 cheguei a Diretor da Fundação Cultural Gaúcha, aonde fui até 2010, passando por todas as grandes transformações que o Movimento teve neste período de transição do século XX para o XXI.
Hoje faço o Jornal Eco da Tradição, fazemos aqui na empresa toda programação visual do MTG (Design Gráfico). Além disso fazemos consultoria para diversas atividades como livros, TCCs, filmes... Por que em 2009 trabalhamos no SBT e depois na Band, produzindo o programa de um artista do estado. O programete “Chasque do MTG” que fizemos na Radio Rural da RBS, e depois transformamos em filme contando a saga farrapa. Palestro por todo o Brasil, são mais de 60 por ano, se dividir vai dar em torno de 5 por mês – levando o pouco de conhecimentos que adquirimos ao longo dos anos. Sou Coordenador da 40ª RT, Vice-Presidente da Comissão Gaúcha de Folclore e Diretor de Divulgação da CBTG (cargos que exerço voluntariamente).

3. Exite um momento em tua caminhada que pode ser destacado como o mais inesquecível, especial?
Sim, acredito que a transmissão do ENART em 2009. Todos queriam ver o ENART na TV mas era caríssimo. Fizemos como o MacGyver fazia na serie de TV, juntamos cabos, câmeras, biscoitos e chiclete, um streming e uma internet de qualidade e mandamos pela rede mundial o ENART naquele ano. Hoje muita gente faz. TV Tradição, TV do Gaúcho, TV Solução.... Mas antes de todos nós fomos lá e fizemos. Fica a lembrança: “Tá no ENART? Tá no mundo!”.


Em 1991 quando dançava ainda no CTG Valentes da Tradição

Um ídolo, Sergio Reis

Voltando do Rio de Janeiro ao lado do Jornalista Tulio Millmann

4. Convivendo no meio tradicionalista e participando de grandiosos eventos, sempre encontramos alguém que temos como exemplo, que somos "fã" pela história que construiu e marcas que deixou no Movimento! Pode nos citar algumas pessoas que foram ou são um "modelo" de tradicionalista, na tua opinião? Qual a tua relação com essas pessoas hoje?
Meu pai... Modelo sempre de retidão, caráter, humildade.
Barbosa Lessa, com quem convivi pouco tempo, mas nesse pouco tempo aprendi muito. É meu mentor, mesmo distante. Em 1997 sai no livro dele o, Almanaque do Gaúcho, como uma jovem promessa, ao lado do Borghettinho, Dinara Paixão e Jarbas Lima.
Ivo Benfatto, Gerciliano, Fraga Cirne e Manoelito Savaris – Quatro caras que, no MTG, foram professores. Cel Celso Souza Soares, um homem simples, de cima do lombo do cavalo, mas de uma inteligência fantástica, ao lado do Melo Manso, que ninguém dava nada por ele, mas era simplesmente uma mente genial.

5. Estamos nos aproximando do Dia do Jovem Tradicionalista. Qual a tua visão sobre a participação destes no Tradicionalismo? Estão em constante evolução? Tu acreditas fielmente que o Movimento nos torna "seres humanos melhores"?
Estive lá, no dia da aprovação desta proposta e votei. Em 1991 – 36º Congresso em Julio de Castilhos. Proposta do Luiz Henrique do CTG Tiarayu. Toda grande revolução aconteceu envolvendo as mentes jovens e inquietas. Parthenon Literário em 1868, com jovens como Apolinário Porto Alegre, com seus 24 anos, estudantes rio-grandenses estudando em São Paulo, Rio, Recife, como Júlio de Castilhos, Assis Brasil, Ramiro Barcelos, mudaram a história. Simões Lopes Neto escrevendo dentro do galpão a historia de gaúchos que mais tarde mudaria a identidade de um povo. Nossa juventude espera muito para ocupar seu espaço, faz, movimenta, mas não ocupa o espaço. E na sociedade não existe este vácuo. Se tu não ocupa, outro vem e o faz.
O CTG prepara, mesmo que muitas vezes “sem querer”, o cidadão para abastecer a sociedade. As vezes só quer ter um dançarino, um laçador, um vendedor de convites, um declamador... Mas na grande maioria são escolas preparatórias para tornar o jovem um cidadão responsável e de bem. Pra isso... nota dez pros CTGs que se preocupam.

Com Ruben George Oliven, Manoelito Savaris e Sergius Gonzaga

Com os amigos do Buenas e M’Espalho, colegas de Radio Rural

Com o grupo Matsumo, da Africa do Sul, na Alemanha, 2007, 
junto com o GAN Anita Garibaldi

6. Quero te parabenizar pela autoria da obra "MTG - 50 anos de preservação e valorização da Cultura Gaúcha"! Não adquiri o livro ainda (pretendo em breve), mas já tive a oportunidade de o ter nas mãe e tenho certeza de que é uma grandiosa obra. Como surgiu a oportunidade de ser tua a autoria, e de que maneira está sendo a divulgação dele por todo o Estado? Palestras e mais palestras... sucesso total, né?
Em 2014, quando assumiu a Presidência do MTG o historiador Manoelito Savaris, me chamou e encomendou o livro. Nunca mais falamos sobre isso. Savaris tem uma característica de líder fantástica: dada a missão... tem que ser cumprida. E aprendi isso com ele, pois no dia da minha formatura em 2001 ele chegou pra mim e perguntou se eu assumiria a direção dos trabalhos na Fundação. Prontamente aceitei e trabalhei dez anos ao lado dele.
Usamos com o base o livro dos 40 anos, mas aprofundamos um passado anterior ao Cezimbra Jacques... e fomos além, projetando os próximos 50 anos. Corrigimos algumas coisas como por exemplo nos símbolos: O broto com sete folhas... em qualquer livro cita-se apenas o significado de “seis”.. sempre faltou um. Agora tem.
O livro tem sido sucesso onde passamos. A arte, o projeto gráfico ficou por conta da Liliane Pappen, presidente da Escola do Chimarrão de Venâncio Aires, mas que tem um belíssimo talento criativo. Levamos para Goiás e Brasília, levaremos para Bahia, Maringá, Pitangas e Curitiba, no Paraná. Acredito que os tradicionalistas tem que ter essa obra. Ele está por ser entregue ao Ministro Chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que tem uma invejável coleção de quadros em seu escritório, no Rio Grande do Sul, que conta a saga farrapa e as revoluções gaúchas, um apaixonado pela nossa história.

7. Finalizando, te agradeço muito a disponibilidade em estar aqui nos contando uma pequena parte de tua vivência no Movimento, e dos teus ideais enquanto tradicionalista. Podes ter certeza que tu também és exemplo pra muitos que te acompanham. Muito obrigada!
Sempre fui um apaixonado pela comunicação. Nós vivíamos em um mundo de certezas. Hoje, vivemos uma era de muita informação e poucas certezas. Muitas contestações e pouco conhecimento. É realmente um “Mundo líquido”. Os CTGs nos ajudam, como grupo local e com um forte núcleo cultural a termos, pelo menos certeza que estamos em um caminho certo, buscando melhorar a sociedade que vivemos. Desta forma criei meu blog para contar, como um diário, nossa viagem com o Anita Garibaldi, para a Alemanha, em 2007. Depois disso, virou uma referencia em noticias do tradicionalismo, assim como o Cantinho Gaúcho.
Parabéns pra ti também Carol. Quando fiz assessoria de imprensa para o MTG, sempre mandei noticias para ti pois sei o quanto teu espaço é lido. Mantenha-se sempre forte.. continua fazendo esse trabalho voluntário que ajuda muita gente a ter a informação correta, em uma época de incertezas e excesso de informações.

E aí leitores do nosso Cantinho, gostaram?
Eu adorei!
É sempre bom conhecermos mais sobre alguém que temos como exemplo... ainda mais sendo uma fonte de conhecimento como o Rogério Bastos.

Um grande abraço a todos, e até logo :)

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