sexta-feira, 13 de maio de 2016

Cantinho Gaúcho entrevista: João Lucas Cirne / Joca

Bom diiia, sexta bonita!

Seguindo por aqui na linha de entrevistas (que booombam o blog), o Cantinho Gaúcho traz hoje um papo super bacana com João Lucas Cirne, o Joca, um dos vocais mais imponentes do nosso tradicionalismo gaúcho!

É com uma alegria imensa que faço esta postagem, pois sei de toda a dedicação dele e suas equipes com a música, e também do amor que ele transmite em suas letras e aos grupos que interpretarão suas criações. Foi um orgulho já ter tido a oportunidade de dançar ao som da sua música, e é por isso que a entrevista de hoje foi pensada com muito carinho.

Espero que gostem!


1. Nos conte um pouco sobre a sua história... quando e onde iniciou no tradicionalismo gaúcho?
Na realidade, a música e a bombacha na minha vida vêm desde o berço, ou até mesmo antes, pois meus pais, Carlos Cirne e Sônia Mara, já tinham 10 anos de carreira como dupla, quando eu "cheguei" na vida deles. A minha mãe entrou em trabalho de parto em cima do palco, cantando, e o público, ao perceber que a bolsa havia rompido, começou a aplaudir, o que me permite dizer que vim ao mundo já com aplausos, hahaha... Talvez seja o sonho de todo artista.. Bueno, desde muito jovem já me via contagiado pela música, e aos seis anos de idade ganhei da minha avó, a Dona Lina, minha primeira gaita (gaita piano de 8 baixos), que ela provavelmente me deu depois de ver eu transformar todos os objetos possíveis da casa em gaitas. E assim nasceu uma história pra vida inteira, passando por muitos shows, bailes e festivais ao lado dos meus pais, desde meus oito anos, até que aos 16 anos, fui com meu pai, que havia sido convidado a avaliar uma inter regional do Enart 2002 em Três Coroas - RS, e então eu tive meu primeiro contato com o ENART, e no mês de Setembro do mesmo ano, iniciava eu a tocar para meus primeiros grupos de danças no CTG Independência Gaúcha, em Esteio, cidade onde até hoje resido. De lá pra cá já se vão 24 anos de música, 14 deles dedicados, entre outras atividades, ao Movimento Tradicionalista Gaúcho.

2. E as suas equipes? Como vocês lidam com a correria de ensaios e rodeios? A parceria precisa ser grande, né?
Uma vez, numa roda de final de ensaio em que eu estava presente, o meu amigo e grande instrutor, Rinaldo Souto disse: " - O João Lucas nunca se acompanha mal!"... De fato, estou sempre cercado de colegas de grande talento e profissionalismo, que comungam da mesma ideologia de trabalho que eu tenho, e que não é minha, mas nossa, em decorrência da realidade que vivemos diariamente em diferentes galpões de CTG's, entregando a nossa arte com todo o carinho à todos aqueles que nos confiam seus projetos e mais do que isso, o seu sonho de pisar no tablado do ENART. A agenda é sempre um desafio, ainda mais pelo fato de que trabalho com 4 a 6 diferentes equipes musicais durante o ano, não somente no RS mas pelo Brasil. Mas o profissionalismo dos meus colegas, sem os quais eu nada seria, e com a parceria dos muitos grupos com quem trabalhamos, sempre colaborando conosco, com a compreensão de nossas famílias que tanto se vêem privadas da nossa companhia, graças a Deus, sempre terminamos cada ano de trabalho com sucesso, sensação de dever cumprido, todos os grupos satisfeitos, e a certeza de que as parcerias se renovarão no ano seguinte.

Musical DTG Lenço Colorado - ENART 2013

3. De todos estes anos, teve alguma música que foi a tua criação mais especial? (não necessariamente tradicionalista...)
Esta realmente é uma pergunta difícil, mas eu diria que a minha música mais especial, seria infelizmente uma que não me lembro mais de letra ou melodia, e que foi especial não pela composição em si, mas por ter sido a primeira letra e melodia que compus sozinho, quando tinha uns 8 ou 9 anos de idade, talvez menos. Eu li pra minha mãe e a emocionei, por naquele momento estar de certa forma demonstrando que algum dia eu viria a me tornar compositor, e com a minha música poder tocar o coração das pessoas. Me lembro apenas que o conteúdo era singelo, de um peão convidando uma prendinha pra dançar, mas pelo tema, acho que já estava anunciado que em algum momento da minha vida, as minha melodias de fato seriam trilha sonora de pares dançando pelos tablados mundo a fora. Trabalho este que é indescritivelmente gratificante e recompensador.

4. É claro que não posso fugir do assunto ENART... então me diga: Qual a sensação de estar presente naquele palco ao lado de grupos com tanto renome, e tantos títulos? Tens como destacar um ano, como o mais especial?
A sensação é a de que eu não queria, naquele momento, estar em qualquer outro lugar, fazendo qualquer outra coisa que não fosse estar ali. A responsabilidade é grande e me motiva, a energia que tem o ENART é algo inexplicável, que só quem está lá pode entender. Os grupos, sejam renomados ou não, são uma extensão da nossa arte, e querendo ver sempre o melhor de cada um deles, eu lhes entrego sempre o melhor de mim, indistintamente. Sinto-me fazendo parte de cada grupo que está no palco ao som da minha gaita e da minha voz, ou embalado por uma de nossas canções. Suas vitórias são nossas também, e me vejo parte disso porque a energia trocada entre musical e grupo durante uma apresentação, quando aproveitada de forma consciente e para o bem, nos torna um só, por aqueles 20 ou 25 minutos. Eu sempre quero sair do palco sentindo o que diz a música do meu irmão de arte Juliano Eloy: "Eu sei que valeu a pena!!". Quanto ao ano mais especial, muito embora eu tente sempre fazer com que o próximo seja ainda mais especial que o anterior, destaco o ano de 2013, em que vi o Ronda Charrua afundar um navio no tablado e levantar o público nas arquibancadas ao som da nossa música "Batismo de Fogo", mesmo ano em que ficamos em segundo lugar com o Guapos do Itapuí, com um Anú que parou o festival, e ainda tive a felicidade de conquistar o 1º Lugar como Melhor musical de invernada do Estado com o CTG M'bororé, e a alegria de ver o CTG Lalau Miranda ficar com a 3ª melhor saída com a nossa música "Passo Fundo, Coração". Foi um grande ano. 

1º Lugar Melhor Musical de Invernada
CTG M'Bororé - ENART 2013

5. Já fizeste centenas de músicas pros mais diversos grupos do Estado, muitas delas resultando em grandiosas coreografias, inclusive premiadas. Qual a sensação de ser uma parte bem responsável pelos sonhos e conquistas de tantos dançarinos Rio Grande a fora?
A sensação é de ser abençoado a cada oportunidade de transformar o sonho de alguém em música. A emoção e a gratidão dos bailarinos, instrutores e coreógrafos dos quatro cantos do Rio Grande e do Brasil pelo meu trabalho e pelo trabalho da Sônia Mara a cada projeto que toma forma, só nos dá a certeza de estarmos cumprindo o destino que Deus nos reservou e nos motiva a seguir em frente, semeando a nossa arte e levando aos corações daqueles que, assim como nós, amam e respeitam a nossa cultura!

6. Consegues escolher alguma coreografia, com música tua, como a mais marcante da tua história no Enart?
Eu diria que a música mais marcante foi a Música - Tema do ENART, "Universo das Emoções", feita a pedido do meu amigo José Roberto Fischborn, pedido este que tanto nos honrou, para este festival, que chegava aos seus 30 anos e não tinha ainda uma música própria. Era um grande desafio colocar em uma única canção tudo o que significa e simboliza o ENART para quem o vive e dele faz o palco da sua arte. O José Roberto nos passou as respostas de uma enquete que foi feita com vários participantes do ENART, respondendo a pergunta: "- O que o ENART significa pra ti?". Dessas respostas veio a inspiração para esta música, que ano passado foi conjuntamente coreografada pelos grupos de danças do CTG Rancho da Saudade, com o qual tive a imensa alegria de ser campeão do ENART no ano de 2014 (outro grande ano). E assim dançaram ao som do refrão que diz:

"Tradição, emoção,
Gritar bem alto - Eu sou do Sul -, pra enaltecer o meu chão
Vem pro Enart, vem também,
Fazer parte da história, deste povo de glórias,
Mostrar ao mundo inteiro o que o Rio Grande tem!"


Inter-Regional de Uruguaiana
ENART 2014

7. O Movimento Tradicionalista Gaúcho organizado está completando cinquenta anos de história. Tu acreditas que a nossa cultura está em boas mãos? Como tu vês a participação dos jovens no Movimento?
Enquanto o Movimento estiver nas mãos de quem dele participa por amor à tradição acima de tudo, estará em boas mãos. Assim tem sido por cinquenta anos, e não imagino de outra forma. O Movimento se mantém vivo e atuante graças a comunhão de ideias daqueles que defendem e conservam a tradicionalidade, com aqueles que, sem deturpar o que é tradicional, trazem ímpetos de inovação e tecnologia, que bem servem ao movimento, o qual, apesar de ter por premissa e dever a salvaguarda da tradição, como todas as instituições, precisa acompanhar a evolução dos tempos, a exemplo do crescimento do festival ENART, que hoje tem visibilidade mundial, e estimula crianças, jovens, adultos e veteranos a desejarem integrar-se às atividades desenvolvidas dentro dos galpões de CTG. Os CTG's são dos poucos lugares, se não os últimos, que se pode frequentar em família, por serem ambientes de respeito e cordialidade, onde principalmente os jovens encontram outras fontes do saber, aprendem a ter consciência de cidadania e coletividade, e como se não bastasse, desenvolvem atividades artísticas, que trazem profundos reflexos em suas vidas para com a sociedade e para o seu futuro. Ano passado publiquei em rede social um texto intitulado "Como eu gosto dos CTG's", que nada mais era do que um desabafo por ver e constatar as dificuldades enfrentadas pelo nosso país e suas respectivas causas, traçando um paralelo com a realidade que vivemos dentro dos centros de tradições. Sem que eu jamais esperasse tal repercussão, até mesmo por ser um desabafo pessoal, este texto já foi "curtido" por quase 800 pessoas e teve mais de 400 compartilhamentos, mostrando que mais gente comunga do mesmo pensamento de que os CTG's e seus cotidianos servem de exemplo à sociedade brasileira, que anseia por dias melhores!

8. Pra finalizar, só tenho a agradecer a sua disponibilidade em estar trazendo pra nós, aqui do Cantinho Gaúcho, um pouco mais sobre a sua história dentro do Movimento que é, com certeza, exemplo pra muitos de nós. Muito, muito obrigada!
Deixo o meu agradecimento pelo convite para a entrevista e meus parabéns pela iniciativa do Cantinho Gaúcho, de levar até o nosso público um pouco da nossa trajetória pelo "mundo tradicionalista", e eu digo "mundo" porque tu, que também és dançarina, sabe muito bem o quanto o culto às tradições para nós, que somos eternos apaixonados pelas coisas da nossa terra, faz parte dos nossos dias.
Vida longa e sucesso ao Cantinho Gaúcho!
E a ti Carolina, bem como aos apreciadores e seguidores do teu trabalho, o fraterno abraço do amigo João Lucas Cirne.

Um maravilhoooso final de semana a todos!!!
Semana que vem eu volto com muito mais pra vocês.

Abraço grande, e até logo ;**

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