As expansões povoadoras espanhola e portuguesa articularam-se de maneiras diferentes com o espaço indígena. No oeste do Rio Grande do Sul os missionários ergueram reduções com o objetivo de transformar os índios em cristãos e em súditos do rei da Espanha.
Os bandeirantes, em busca de mão-de-obra para a área de cultivo de cana-de-açúcar no litoral do Brasil, deixaram um rastro de sangue e de contágios de doenças européias entre os nativos jês e guaranis. A leste, os luso-brasileiros desencadearam o processo se povoamento através de sesmarias, transformadas em fazendas de criação de gado. Na zona da Campanha os luso-brasileiros aproveitaram o índio pampiano como soldado, peão e tropeiro. A mestiçagem foi fator dominante para o desaparecimento das culturas indígenas.
Cultura jê
Na região do Planalto Brasileiro Meridional viviam os jês, divididos em parcialidades denominadas guaianás, coroados, pinarés, ibijaras, caáguas, gualachos, botocudos e xocléns.
As parcialidades jês habitavam em aldeias de cinco a seis cabanas, com 20 a 25 famílias, dirigidas por um chefe que praticava feitiçaria. Um feiticeiro temido atuava em diversas aldeias, comunicando-se com os espíritos e curando doenças.
Os jês organizavam-se em dois clãs exogâmicos: o clã da lua, que era de guerreiros, e o clã do sol, formado por caçadores. O clã da lua dividia-se na metade votoro e na metade canheru. O clã do sol era formado pelas metades aniqui e camé. O chefe do clã dava licença para a mulher casar com o rapaz que ela escolheu, segundo as relações de parentesco. O homem podia dispor de sua mulher trocando-a ou emprestando-a por um objeto. Paradoxamente exigia-se fidelidade conjugal, sendo o adultério punido com a morte a flechadas, tanto o homem quanto a mulher.
Quando a mulher estava perto de dar a luz, o homem construía um pequeno rancho, na extremidade da aldeia, onde ela permanecia sozinha até após o parto. Depois do quarto ou quinto filho a mulher era esterilizada por uma beberagem.
A terra pertencia à comunidade, com território de caça marcado. Organizavam a caçada em grupo, tendo o cuidado de matar apenas os machos e de mudar o lugar de caça a cada dois anos. Os jês eliminavam quem entrasse armado em seu território de caça. Por isto reagiram contra os colonos alemães e italianos que matavam animais indiscriminadamente e por esporte.
O casal realizava a coleta de pinhão, transformando-o em farinha. Cada aldeia possuía seu pinheiral, não permitindo que índios de outras aldeias coletassem pinhão. Tal alto gerava guerra de extermínio entre moradores da aldeia que invadiu o pinheiral. A coleta de mel era comunitária, cada homem recebia uma vasilha de outra família. No fim de tarde os homens se reuniam junto a aldeia, entrando todos ao mesmo tempo e entregando o mel à dona do pote.
Praticavam a agricultura rudimentar. O homem preparava o terreno pela coivara e a mulher plantava e colhia. Cultivavam o milho, a mandioca, a abóbora e a batata-doce.
Exímios costeiros, os jês usavam diversas fibras vegetais, inclusive o caraguatá para tecerem túnicas para as mulheres.
Cuidavam da limpeza corporal e enfeitavam-se com penas, penteados complicados e com pintura corporal que identificava o grupo, o clã, a idade e o sexo. Os homens furavam o lábio inferior para colocar o batoque, uma rodela de madeira.
Andavam nus da cabeça aos pés, os homens traziam uma cinta larga em volta dos quadris, formada de cordões das fibras de tucum ou da urtiga brava.
O grupo realizava o controle social punindo o homem faltoso com a expulsão temporária da choça comum ou designando-lhes tarefas femininas. A mulher faltosa era entregue a outro homem como punição. A mulher jê até hoje é mais agressiva que o homem, chegando a bater no marido que não reage.
Acreditavam em Maré, Deus criador e civilizador. Consideravam o sol e a lua como protetores de colheita, de puberdade e da procriação. A alma do morto, chamada de acupli, podia encostar-se em alguém, trazendo-lhes doenças e até loucura. Enterravam o morto em posição fetal num buraco protegido por lajes de pedra ou ramos de árvore, sem contato com a terra, junto com vasilha de água, cães e armas.
Os coroados, fugindo dos brancos e dos seus inimigos botocudos construíam seus ranchos no alto dos morros, no meio de pinheirais. O chefe principal designava os lugares das aldeias que lhe eram subordinadas. Só o chefe principal possuía várias mulheres, dispondo delas para trocas de objetos, mas sempre ficando com os filhos. Se o chefe principal brigasse com outro subordinado, iria perseguir os dissidentes até o extermínio. Só restava ao grupo dissidente viver se escondendo e correndo pelas matas. Os homens vencidos eram mortos, poupando-se apenas as mulheres e crianças.
As epidemias de origem européia e africana e a ação dos bugreiros destruíram os jês. Os bugreiros, matadores profissionais que recebiam pagamento por índios mortos, provocaram o vazio demográfico indígena nas trilhas das tropas de gado. Levas de indígenas, corridos pelos cafeicultores de São Paulo, chegaram ao Rio Grande do Sul no final do Século XIX. Novamente os bugreiros agiram nas áreas de imigração de Maratá, Taquara do Mundo Novo, Colônia São Pedro, Erechim e Erebango na limpeza étnica, a fim de que as terras estivessem desocupadas para o uso de imigrantes europeus. Em 1882 Telêmaco Morocines Borba reuniu os índios de idioma e deu-lhes o nome de caingangues (habitantes do mato).
Colocaram os índios caingangues em reservas, administradas pela FUNAI. Colonos, com a conivência dos índios, passaram a erguer casas e plantarem lavouras de milho, até que em maio de 1978 os caingangues se revoltaram sob a liderança do cacique Xangré e expulsaram os posseiros, num total de 350 famílias, que foram recolocadas no Mato Grosso.
Cultura pampiana
Na zona de campanha predominavam os índios de fala quíchuam divididos nas parcialidades charruas, minuanos, yarós, guenoas e chanás. Formavam famílias extensas que moravam em toldos cobertos de esteiras, substituídas por couro com a chegada do gado europeu. Só em tempos de guerra é que escolhiam temporariamente um chefe. Erigiam os toldos junto a banhados onde havia abundância de aves aquáticas, peixes e crustáceos. Complementavam a alimentação com a caça e com a coleta de frutos e mel. Não se dedicavam ao cultivo plantas. Vagavam de um lugar para outro em busca de caça, levando consigo as mulheres e filhos. As mulheres seguiam a pé, carregando tudo o que pertencia à família. Exímios caçadores usavam lanças, flechas, tacapes, rompe-cabeças, boleadeiras e pedras lanças por fundas. Pescavam com rede e com flechas. Usavam boleadeiras para caçar aves aquáticas, no momento em que elas alçavam o vôo. A introdução do gado europeu modificou a vida doa pampianos que se transformaram em exímios cavaleiros e passaram a se alimentar do gado vacum e cavalar.
Praticavam a poligamia e quando a mulher envelhecia, tomavam uma mais jovem. O homem não se importava se a china (mulher) tivesse relações com outro. Trocavam a mulher por qualquer objeto. Os homens se adornavam com tatuagens, pintura corporal e plumas. Andavam despidos ou enrolavam o corpo com o quillapis, manto com couros costurados com tento. Usavam botas de garrão de potro. Em contato com os espanhóis, vestiam o poncho, o chiripá e cobriam com chapéu de couro de “barriga de burro”. Contratados como peões ou tropeiros, adotaram com indumentária a ceroula com renda de crivo, chiripá, robessor, colete, camisa, e chapéu de copa alta. Em contato com os europeus, as mulheres passaram a vestir uma túnica de algodão.
Conseguiam a erva-mate com os guaranis, bebendo o mati numa cuia e sem bomba, mastigando a erva.
Acreditavam que toda a pessoa tem um espírito guia que se revela quando o índio trespassava os braços com varetas de taquara e jejuava dentro de um buraco. Enterravam seus mortos em túmulos formados por pedras amontoadas no alto das coxilhas, colocando junto ao corpo a lança e as boleadeiras. O luto durava dez dias e as mulheres cortavam uma falange do dedo da mão em sinal de dor pela perda do parente.
Quando os caçadores retornavam ao toldo, deitavam-se para descansar enquanto as mulheres desencilhavam e lavavam os cavalos, buscavam lenha e cozinham a caça.
Missionários jesuítas atravessavam o rio Uruguai tentando catequizar as parcialidades charruas e minuanas, que não aceitaram viver em reduções. Missionários franciscanos, dominicanos e mercedários, oriundos de Buenos Aires, também tentaram reduzir os pampianos. Constituíram a primeira redução de charruas na ilha Vizcaíno, na confluência do rio Negro com o rio Uruguai, em 1626. A redução religiosa durou apenas dois anos. Na mesma época aldearam sem sucesso os chanás na missão de Santo Antônio. A redução de Santa Maria dos Guenoas, que seria mais um dos Sete Povos, também fracassou. A vida de caçador, a falta de organização comunitária mais complexa e de afinidades com a religião católica dificultaram a formação de missões com os pampianos.
Portugueses e espanhóis ocuparam as terras dos pampianos com fortalezas, vilas e estâncias: Colônia do Santíssimo Sacramento em 1680, estâncias dos Sete Povos a partir de 1682, fundação de San felipe de Montevidéu em 1726, São Pedro do Rio Grande, estâncias de espanhóis e de portugueses, diminuindo o espaço dos charruas e minuanos, que passaram a formar os maloneses para pilhagem das estâncias e rapto de mulheres e crianças.
Empurrados pelas frentes de colonização em direção as cabeceiras do rio Negro e para a região entre os rios Quarai e Quequai, os charruas se uniram aos minuanos. Em 1811 e 1820 os charruas e minuanos participaram como soldados das tropas de José Gervásio Artigas. As constantes campanhas dos espanhóis contra as chamadas nações bárbaras, denominadas de guerra dos charruas, destruíram a população indígena da Banda Oriental do Uruguai. Os remanescentes se refugiaram, em 1832, do lado sul-rio-grandense, incorporando-se à tropa de Bento Manuel Ribeiro ou como peões de estâncias.
Os pampianos abrigavam em seus toldos os foragidos, os desertores e contrabandistas de origem portuguesa, espanhola ou africana, não se importavam que suas chinas se unissem com os fugitivos, mesmo temporariamente. Esse costume facilitou a formação do grupo social chamado de gaudério ou gaúcho.
Os pampianos legaram vários vocábulos que ainda são usados na linguagem coloquial do Rio Grande do Sul: cancha, china, chiripá, poncho, guacho, charque, chasque, chiru, guaiaca, guampa, guasca, inhapa, lechiguana, mate, pampa, tambo e vincha.
Cultura Guarani
Os guaranis mbyás, vindos do Paraguai há mais de dois mil anos conquistaram o vale do rio Uruguai, subindo por seus afluentes. Do vale do rio Ibicuí atingiram a depressão do rio Jacuí e seus afluentes. Na época da evangelização os missionários jesuítas chamavam de Chapê, o caminho, a região entre os rios Jaguarí, Uruguai e Ibicuí. Denominavam os índios que aí habitavam de índios do Chapê, como indicativo de índio de um lugar, que passou a ser denominado de Tapes. No século XIX a denominação de topônimo deslocou-se para junto da Laguna dos Patos.
Os guaranis caracterizavam-se pelo nhande-reko, o modo de ser em relação ao espaço geográfico chamado teko-hã, onde se vive. Esse espaço geográfico e cultural era formado pela aldeia (tetami), casas (coty), roças (co), caminhos (chapê), caminho da roça (Chapecó) e mato (caa). Viviam em aldeias com várias casas dispostas em círculo, no centro erguiam a casa dos homens. Cada clã ocupava uma casa de forma alongada, com porta para homens e outra para as mulheres. Dormiam em redes e guardavam objetos num jirau, sentavam em banquinhos ou esteiras, colocavam os grãos ou líquidos em potes de cerâmica ou em porongos.
Os guaranis praticavam agricultura especializada em clareiras abertas com a queima das árvores e arbustos. Esta preparação chamava-se de coivara. Usavam várias clareiras com a roça em estágios diferentes de plantação, maturação e colheita, deixando sempre uma com capoeira para a recuperação do solo.
O homem fazia a coivara e, com um bastão, praticava furos no solo para que a mulher semeasse ou plantasse. Embora trabalhassem em grupo, cada família tinha sua plantação. Cultivavam milho, mandioca, feijão, abóbora, batata-doce, amendoim, fumo e algodão.
Coletavam a erva-mate e frutos de plantas nativas. Pescavam com redes e flechas. A caça era comunitária e o matador do animal repartia a carne entre os demais caçadores. Os mbyás armavam-se de arco, flechas, lança e tacape.
O Page era encarregado de transmitir o teko-yma, o proceder antigo, pois os mbyás executavam todos os atos do cotidiano com o ritualismo que mantinha a ordem cósmica, como a primeira pintura corporal, a poligamia dos chefes, o couvade, a saudação lacrimosa, a educação dos filhos, os sonhos proféticos, o canibalismo e o puxirum ou mutirão.
Os clãs estavam divididos em metades. Os chefes clãs, cós os chefes das metades, participavam do Conselho da aldeia que decidia sobre migração, caçada, guerra e paz. O Page também participava do Conselho. Havia também o morubixava que mantinha a ordem na aldeia, atuando como elemento de conciliação. O taxauá era um chefe provisório de caçada, ataque bélico ou de pescaria.
Os homens de adornavam mais que as mulheres, tatuando e pintando o corpo, usando colares, pulseiras de sementes, contas e plumas. Furavam o lábio inferior para colocar o tembetá. A pintura corporal tinha significados simbólicos, sendo característica de cada clã, metade do clã, sexo, idade e posição dentro do grupo.
Havia a poligamia usualmente dos chefes, que precisavam de mulheres que trabalhassem para darem comida e objetos aos seus subordinados, mantendo assim a chefia. Davam suas mulheres a outros homens em troca de objetos ou em penhor de uma aliança. Esse costume facilitou a mestiçagem com os brancos.
Os guaranis praticavam o couvade ou choco como ritual de proteção ao recém nascido. Quando a mulher dava à luz, o homem não comia carne durante 15 dias, permanecendo de resguardo na rede. A mulher era colocada numa pequena choça, fora da aldeia onde tinha o parto sozinha. Ela cortava o cordão umbilical, lavava a criança e depois levava para o pai, que aguardava na rede. Se ele pegasse a criança, estava reconhecendo-lhe como filho. A mulher ia logo trabalhar na roça a fim de enganar os maus espíritos, que poderiam se apossar da criança. Era também uma maneira de selecionar as mulheres mais resistentes.
Quando chegava um hóspede na aldeia guarani, as mulheres praticavam a saudação lacrimosa. O recém chegado sentava na rede enquanto as mulheres choravam com grande alarido, depois enxugavam as lágrimas e davam boas vindas ao viajante. Só então os homens da aldeia falavam com o hóspede.
O menino até os oito anos permanecia junto da mãe, depois ia para a casa dos homens, quando passava a aprender com o pai a pescar e a caçar. Os homossexuais do grupo davam a iniciação sexual ao menino. A menina permanecia junto à mãe até o matrimônio. Durante a primeira menstruação a menina ficava recolhida e não podia ver animal e homem. As lésbicas davam-lhe a iniciação sexual. Após a primeira menstruação, a moça tinha liberdade sexual, desde que seus parentes fossem indenizados. Não batiam, não gritava e nem castigavam os filhos.
Acreditavam que um banho frio pela manhã prolongava a vida. Ao acordar, o guarani contava seus sonhos, em busca de uma interpretação, pois acreditava que eles eram proféticos. Praticavam o canibalismo, comendo os prisioneiros de guerra por ato de vingança, não escapando os velhos, mulheres e crianças.
O puxirum ou mutirão era o trabalho em grupo para ajudar na construção da roça ou de uma casa. Nesse caso, o beneficiado pagava os participantes com bebida alcoólica.
Algumas parcialidades guaranis recolhiam os ossos de seus mortos, colocando-os em igaçaba, grande pote em que guardavam grãos e que passava a servir de uma funerária. Acreditavam que o anguera, o espírito do morto, podia escolher três caminhos: reencarnar numa criança que nascia, encostar-se em alguém lhe dando loucura ou doença ou seguir para a casa de Monan, onde não faltariam calor, água e caça. Acreditavam que a alma possui três aspectos, o da vida, do sonho e de um animal. Criam que existia um paraíso na terra, o Yvimaray, a terra sem males. O pagé entrava em transe e revelava onde ficava o Yvimaray, levando a aldeia a migrar. Os mbyás consideram a terra imperfeita, ciclicamente destruída pelo fogo ou pela água, surgindo uma nova vida. Quando os europeus chegaram, os índios consideraram como um sinal de que um novo mundo começava, com a destruição do antigo.
Nhanderu, o primeiro e uno vivia na escuridão, iluminando apenas pela luz de seu coração. Um colibri alimentava Nhanderu, que por seu amor criou as palavras-almas. Algumas delas erram e foram lançadas na terra, dando origem aos homens imperfeitos.
A teogogia guarani compunha-se de Monan, o Deus criador e pai de Maíramoran, que os homens queimaram numa fogueira e de sua cabeça saiu o trovão (Tupã), que por vingança queimou com o fogo o céu e a terra imperfeita, salvando-se apenas Irin-majé e sua esposa que povoaram a terra. Em outra visão Irin-majé, filho de Monan, é a chuva que fertiliza a terra. O duplo de Monan é Sumé, o civilizador que ensinou a agricultura. Em outra versão, Sumé é filho de Irin-Majé. De Sumé nasceram os gêmeos Temendonaré, que deu os nomes às coisas que Monan criou, fazendo com que elas passassem a ser, e Aricoute ciumento que mandou o dilúvio. Temendonaré ensinou os homens a sobreviverem na grande enchente, refugiando-se no alto de palmeiras. Outra versão afirma que se salvo um índio e sua irmã grávida, no alto de uma palmeira. Depois do dilúvio nasceu uma menina, que mais tarde se unirá ao tio materno, dando origem à humanidade.
Acreditavam no Curupira, este fantástico com os pés virados para trás, que protegia os animais fêmeas e filhotes. A Caapora (Caipora), pequeno e triste, que trazia a infelicidade para quem o visse. A Uiara (Iara), ente feminino que atraía o índio para o fundo do rio. O Yurupari (Jurupari) era o espírito do mal, o demônio.
Segundo a lenda da Mboytatá (Cobra de fogo), a chuva caía sem parar, dias e dias, aumentando os rios e lagoas, que transbordaram. Os animais procuraram abrigo nos lugares mais altos, mas faltava comida. De tanto animal morto, a Cobra (Mboy) só comia os olhos dos cadáveres. Comeu tanto que seu corpo começou a brilhar como se tivesse milhares de olhos. Transformou-se na Mboitatá, que a noite percorre os campos como um fogo azulado.
Os guaranis históricos desapareceram lentamente no Rio Grande do Sul, pelos ataques dos bandeirantes, pela guerra guaranítica, pela escravidão imposta pelo governo militar espanhol nas reduções depois da expulsão dos jesuítas, pelo recrutamento militar e, principalmente pela mestiçagem das mulheres mbyás com homens brancos.
Em 1756 portugueses e espanhóis invadiram os sete Povos, 1757, os portugueses levaram cerca de dez mil índios que foram assentados nas aldeias de São Nicolau de Rio Pardo, São Nicolau de Cachoeira e, em 1762, na de Nossa Senhora dos Anjos (Gravataí). Com a invasão luso-brasileira nos Sete Povos, 1801, os guaranis se dispersaram pelo Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina, trabalhando como peões, tropeiros e artesãos.
Os guaranis, existentes atualmente no Rio Grande do Sul, chegaram em fins do século XIX, corridos pelos cafeicultores e pelas frentes de colonização no Paraná e Santa Catarina. Alguns grupos menores são oriundos do Paraguai.
Na linguagem coloquial do Rio Grande do Sul há vários termos de origem guarani: aguapé, araçá, araponga, aroeira, biboca, biriva, boçoroca, caboclo, capão, capim, capivara, capoeira, Che, cutucar, cipó, cuia, goiaba, gravatá, guaraxaim, guri, jacaré, jaguar, jararaca, jirau, joá, lambari, mabira, marica, micuim, perereca, perau, peteca, piá, pitanga, tapera, taquara, tatu, tiririca e urubu. Outra herança cultura é o uso da erva-mate (caá-iari), na forma de chimarrão (caá-iró). Se examinarmos os mapas do Paraguai, Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul, veremos que predominam topônimos guaranis; Taquari, Jacuí, Itacolomi, Itapuã, Paraná, Jaguari.
Fonte:
Livro História do Rio Grande do Sul
Moacyr Flores
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