Jacobina casou em 1866 com João Mauer, carpinteiro e curandeiro. A fama de Mauer se esparramou na colônia de São Leopoldo. Jacobina auxiliava o marido, diagnosticando doenças quando entrava em transe.
Os colonos, principalmente os protestantes, reuniam-se aos domingos na casa de Mauer, no sopé do morro Ferrabrás (hoje município de Sapiranga), para tratar de suas doenças e encomendar serviços de carpintaria. Jacobina aproveitava a ocasião para ler e interpretar a Bíblia, entoando cânticos sacros. Surgiu assim a comunidade religiosa que, em 1868, o pastor de Dois Irmãos, João Brutschin apelidou de Mucker, que significa santarrão, falso religioso. Os adversários da seita foram denominados de Spötter, debochadores.
No dia de Pentecostes, a 19.05.1872, estando reunidos os fanáticos, Jacobina recolheu-se ao quarto. Ouviu-se um estouro e quando as pessoas entraram viram apenas as roupas da profetisa na cama. Todos se retiraram para a sala a cantar. Ouviu-se novo estrondo e Jacobina apareceu vestida de branco, dizendo que estivera no céu. João Jorge Klein, que dizia ser pastor, ajoelhou-se reconhecendo-a como Cristo. Ela escolheu seus apóstolos, que deveriam obedecer e vigiar os companheiros.
Filipe Sehn, que assistira à sessão, redigiu junto com o professor Weiss, um requerimento ao delegado de polícia, com 47 assinaturas, solicitando intervenção policial para repor a ordem e a tranquilidade na colônia. Os colonos achavam que a ordem fora quebrada porque os Muckers não fumavam, não bebiam e não iam a bailes, comportamentos diferentes dos demais colonos germânicos.
A situação agravou-se quando os fanáticos retiraram seus filhos das escolas comunitárias católicas e protestantes. Há também uma intriga política a ser considerada: o delegado Lúcio Schreiner queria os votos de Mauer e seus adeptos. Maurer negou-se a participar das eleições, que na época não eram obrigatórias.
A polícia prendeu Maurer e depois Jacobina, que estava em transe. Em São Leopoldo nem o médico conseguiu despertá-la, só os cânticos dos fiéis a acordaram. O casal Mentz Mauer e Jacó das Mulas foram remetidos presos a Porto Alegre. A polícia proibiu reunião da seita. O Presidente da Província considerou que não havia crime político, mas apenas brigas de vizinhos, sendo assunto para a polícia local. Os três retomaram à colônia para o júbilo dos fanáticos que se armaram e construíram uma casa de alvenaria, impropriamente denominada de fortaleza.
Os ânimos tornaram-se mais tensos, com os fanáticos acreditando que estavam protegidos por Cristo, isto é, por Jacobina. A culpa de tudo que acontecia de ruim nas comunidades católica e protestante era jogada sobre os Muckers. O inspetor João Lehn sofreu atentado à bala e as autoridades de São Leopoldo, com escolta de soldados, prenderam 33 Muckers, menos Jacobina, porque ela caiu em transe e não havia carroça para transportá-la. Da capital veio ordem para libertar os fanáticos. Enquanto os companheiros estavam presos, os demais muckers enviaram um memorial a D. Pedro II, contando as perseguições que sofriam. O imperador mandou o memorial ao Presidente da Província e este, ao delegado de São Leopoldo que continuou a hostilizar os fanáticos.
Os Muckers passaram a agir com violência. A casa de Martinho Kassel, ex-mucker, foi incendiada, morrendo a mulher e filhos. Depois foi à casa do comerciante Carlos Brennerm com assassinato de crianças. Os Muckers atacaram e incendiaram as vendas de Filipe Klein e de Jacó Schimidt, passaram pela casa de Clemente Klay, matando-o e queimando o galpão. Na mesma noite foram à casa de um tio de Mauer, que não queria entrar na seita, liquidando-o e a seu irmão. Na Picada Nova, oito muckers atacaram o comerciante e inspetor de quarteirão Miguel Fritsch, depois o comerciante João Daniel Kolling. Os moradores se reuniram em perseguição aos assassinos que foram atacados na travessia do rio Cadeia, morrendo um colono e um fanático.
Em 28.06.1874, o coronel Genuíno Sampaio chegou com 100 soldados à venda de Pedro Serrano, esperando que os fanáticos se entregassem, assustados ao verem os soldados marchando. Da venda de Pedro Serrano partiam duas estradas contornando a mata e se encontrando em frente do reduto dos fanáticos, no sopé do morro Farrabrás. A infantaria seguiu pela estrada da direita, enquanto a artilharia marchava pela esquerda, tentando um envolvimento dos muckers.
A infantaria, comandada pelo coronel Sampaio, deu em campo lavrado, onde os soldados perderam a formação. Os muckers, dissimulados atrás de troncos das árvores, atiraram nos soldados que formavam alvos perfeitos com seus casacos vermelhos contra o fundo verde da vegetação. Só então o coronel Sampaio descobriu que os soldados eram recrutas e não sabiam atirar. A artilharia também atolou em terreno lavrado, quebrando os reparos das peças. Os soldados tiveram 39 baixas, enquanto os fanáticos tiveram apenas 6, realizando-se a profecia de Jacobina que ninguém morreria, desde que cresse nela.
A 18.07.1874, Genuíno Sampaio comandou o segundo ataque, seguindo o mesmo plano. Os canhões novamente silenciaram por falta de solidez do terreno. Os artilheiros, comandados pelo capitão Dantas, avançaram e cercaram a casa que ardia em chamas. Os revoltosos preferiam morrer a se entregar, pois Jacobina prometeu que ressuscitariam. Os artilheiros entraram na casa, tentando salvar as mulheres e crianças. Morreram 16 muckers, que foram sepultados em vala comum. Durante o ataque, Jacobina conseguiu fugir com alguns adeptos para o morro Ferrabrás.
O coronel Genuíno mais uma vez subestimou os adversários e não levou serviço médico, os feridos não tinham nem ataduras. A noite, dentro de sua barraca, Genuíno levou um tiro na região glútea. Os oficiais resolveram esperar o amanhecer para conduzir o comandante com segurança para São Leopoldo. Ao amanhecer, Genuíno Sampaio estava morto por hemorragia.
O novo comandante, coronel Augusto César da Silva destacou 50 soldados para atacar o Ferrabrás. No dia 21.07.1874, depois de duas horas de combate, os soldados bateram em retirada. Quatro dias depois, 50 colonos tentaram subir o morro e foram derrotados. O capitão Dantas deu instrução de tiro a 150 soldados em São Leopoldo e ordens para atingirem as túnicas de verde.
Em toda seita religiosa sempre há o Judas. Na dos muckers foi Carlos Luppa que se apresentou ao delegado de polícia em São Leopoldo, para guiar os soldados até o reduto dos fanáticos no morro do Ferrabrás, em troca da diminuição de sua pena.
Na madrugada de 02.08.1874 o traidor conduziu os colonos por trás do morro, matando duas sentinelas, até a cabana onde se abrigavam Jacobina e 16 fiéis. Morreram todos os muckers com o violento tiroteio.
O sofrimento dos muckers sobreviventes ainda continuaria. Durante oito anos penaram de prisão, sofrendo humilhações, não conseguindo a reunião de um tribunal de júri disposto a julgá-los. Depois de perdoados e soltos, continuaram vítimas de perseguições dos colonos amedrontados e rancorosos.
Em 1902, na Terra dos Bastos, o colono Alvino Schröder deixou a mulher em casa com os filhos e foi ao baile com a empregada, retornando mais tarde para ver a família. Depois voltou ao baile apavorado e gritando que toda a família fora morta pelos muckers que moravam ali perto. Os colonos atacaram as casas de Jacó Graegin, Filipe Noé e Luís Kunzel, massacrando as famílias indefesas.
Mais tarde a empregada e amante de Albino Schröder, atormentada pelo remorso, confessou que fora ela quem assassinou a mulher e os filhos, jogando a culpa nos vizinhos muckers.
Por que os colonos esqueceram os princípios cristãos e mataram em nome da religião?
O padre Ambrose Schupp, narrando o episódio em forma de novela, sem analisar o contexto histórico em que se inseria a colônia, considerou como causa do surgimento da seita a falta de instrução e de assistência espiritual. Leopoldo Petry classificou o movimento como revolta contra a arbitrariedade de órgãos policiais. Klaus Becker considerou Jacobina como doente mental e o pastor João Jorge Klein como homem fracassado que muito influiu na seita. Olyntho Sanmartin, baseado em relatório do capitão Dantas, narrou os fatos militares contra o reduto dos fanáticos. Janaína Amado estudou as estruturas sociais através dos meios de produção, caracterizando o movimento como luta de classes entre os colonos e os donos dos minifúndios. Moacyr Domingues, utilizando farta documentação, estabeleceu uma narrativa de fatos dentro do contexto colonial. Fidélis Dalcin Barbosa também apresentou uma narrativa novelesca, em estilo simples, apoiando-se nos autores anteriormente citados. O romancista Josué Guimarães usou o episódio do Ferrabrás como pano de fundo para seu romance A Ferro e Fogo. Arthur Rabuske analisou a obra do padre Schupp em vários artigos no suplemento literário do Correio do Povo. Finalmente, o cineasta Bodanski realizou um filme maravilhoso como arte cinematográfica, mas deturpou a história com mensagens ideológicas seguindo o materialismo histórico. A paixão de Jacobina, do diretor Flávio Barreto, com Letícia Sppiler no papel-título, é mais uma criação artística cinematográfica que se afasta da realidade.
Não podemos esquecer que a intolerância religiosa entre os diferentes ramos do cristianismo, com raízes na Europa, encontrou terreno fértil na colônia, graças à falta de habilidade das autoridades.
Católicos, protestantes e muckers não souberam argumentar com reciprocidade, apenas impuseram seus princípios com violência, ocasionando a destruição do grupo menor que pretendia alcançar seus objetivos, sem refletir sobre os meios, sacrificando pessoas em nome de uma utopia religiosa.
Deve-se acreditar na pessoa tal qual ela é.
Fonte:
Livro História do Rio Grande do Sul
Moacyr Flores
Bom, o comunismo que surgiu a tantos anos,alcançou tantas nações e também causou guerras e mortes incluindo o holocausto Russo,sendo também um movimento intelectual fanático, era e é até hoje, um movimento ateísta apesar de seus seguidores negarem q o são. Fanatismo não é aplicado apenas a religiosos.
ResponderExcluirBom, o comunismo que surgiu a tantos anos,alcançou tantas nações e também causou guerras e mortes incluindo o holocausto Russo,sendo também um movimento intelectual fanático, era e é até hoje, um movimento ateísta apesar de seus seguidores negarem q o são. Fanatismo não é aplicado apenas a religiosos.
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